segunda-feira, 12 de março de 2012

Quando vier a Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro. "Poemas inconjuntos" (1930)


Cuando venga la primavera

Cuando venga la primavera,
Si ya estuviera muerto,
Las flores se abrirán de igual manera
Y los árboles no serán menos verdes que la primavera pasada.
La realidad no me necesita.

Siento una alegría enorme
Al pensar que mi muerte no tiene importancia alguna

Si supiera que mañana me moría
Y la primavera era pasado mañana,
Me moriría contento, porque era pasado mañana.
Si ese es su tiempo, ¿cuándo iba a venir sino en su tiempo?
Me gusta que todo sea real y que todo esté en su sitio;
Y me gusta porque así sería, aunque a mí no me gustara.
Por eso, si me muero ahora, me muero contento,
Porque todo es real y todo está en su sitio.

Pueden rezar latines sobre mi ataúd, si quieren.
Si quieren, pueden bailar y cantar en torno a él.
No tengo preferencias para cuando ya no pueda tener preferencias.
Lo que sea, cuando sea, ha de ser lo que es.