terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A única verdade

Em louvor de Bernardim Ribeiro

A única verdade é a linha que puxo na extremidade da agulha,
ponto a ponto desenho
a paciência, refaço os gestos
das minhas avós.

Quantas coisas se passavam na cabeça das mulheres em seu estrado,
em seus olhos dobrados,
e eu que nunca tive
paciência.

Mas quem fui bem vedes que o não sou já
e pois que não tenho armas para ofender,
faço desenhos de flores brilhantes com linhas
de seda paciente,
é tudo o que posso fazer
com os olhos dobrados
na noite
que não pára de crescer.
Soledade Santos. Sob os Teus Pés a Terra. Artefacto (2010)



La única verdad
En alabanza de Bernardim Ribeiro

La única verdad es el hilo del que tiro en la extremidad de la aguja,
punto a punto dibujo
la paciencia, rehago los gestos
de mis abuelas.

Cuántas cosas pasaban por la cabeza de las mujeres en su escabel,
en sus ojos doblados,
y yo que nunca tuve
paciencia.

Pero quien fui bien veis que no lo soy ya
y como no tengo armas para ofender,
hago dibujos de flores brillantes con hilos
de seda paciente,
es todo lo que puedo hacer
con los ojos doblados
durante la noche
que no para de crecer.

2 comentários:

Soledade disse...

Comoveu-me ler o poema no ritmo de outra língua, tão próxima, tão materna. Muito obrigada!

Soledade Santos

Sun Iou Miou disse...

Obrigada eu, Soledade, pela poesia.