sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Estou Vivo e escrevo Sol

Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa. Estou Vivo e escrevo Sol (1966)


Estoy Vivo y escribo Sol

Yo escribo versos a mediodía
y la muerte al sol es una cabellera
que pasa en fríos frescos sobre mi cara de vivo
Estoy vivo y escribo sol

Si mis lágrimas y mis dientes cantan
en el vacío fresco
es porque he abolido todas las mentiras
y no soy más que este momento puro
la coincidencia perfecta
en el acto de escribir y sol

El vértigo único de la verdad en ristre
la nulidad de todas las próximas paradas
navego hacia la cumbre
viro en la claridad simple
y los objetos lanzan sus caras
y en mi lengua el sol trepida

Mejor que beber vino es más claro
ser en la mirada la propia mirada
la maravilla es este espacio abierto
la calle
un grito
el gran mantel del silencio verde

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