terça-feira, 30 de novembro de 2010

Morte

Não encontrei ―e não há solidão maior!― com quem chorar
a morte de um amigo que se não
despediu.
Fica tu, sejas quem fores
fora dela.
Não lha mereces.
Sereno, o sofrimento já não dói.
É apenas uma tristeza
bonita.
Precisei-vos tanto, tanto!
A vossa presença
teria tornado mais leve a minha mágoa: mas a vida
que anda para trás e para diante
não parou.
Ninguém, nenhum de vós
veio trazer-me o consolo de uma lágrima.
Ainda bem.
Ter-vos-ia dito: Se me virem na sarjeta, pisem-me em cima;
se me querem
bem,
não se condoam.
Por agora, nem sequer preciso de um colchão
para descansar como fazem os vivos ―dormirei dentro
de um contentor
e aí chorarei sozinha
o meu amigo.
O meu amigo.
Ele é hoje uma semente
na terra.
Esta
sentirá a fome de suas mãos
quando um camponês
semear nela
uma batata grelada: e, então, quando a minha apertar,
mastigarei palavras limpas: honestas
como o eram
as suas.
O meu lugar à mesa onde ele me servia o vinho
à refeição
e ouvia os desconcertos
está desolado; por iso te peço,
vazio a quem nunca menti, deixa-me albergar
no teu nada ―morar
dentro de ti.

Eduarda Chiote. O Meu Lugar à Mesa (2006)


Muerte

No encontré ―¡y no hay soledad mayor!― con quien llorar
la muerte de un amigo que no se
despidió.
Quédate tú, seas quien seas
fuera de ella.
No la mereces.
Sereno, el sufrimento já no duele.
Es solamente una tristeza
bonita.
¡Os necesité tanto, tanto!
Vuestra presencia
habría vuelto más leve mi pena: pero la vida
que anda hacia atrás y hacia adelante
no se paró.
Nadie, ninguno de vosotros
vino a traerme el consuelo de una lágrima.
Menos mal.
Os hubiera dicho: Si me veis en el sumidero, pisadme encima;
si me queréis
bien,
no os compadezcáis.
De momento, ni siquiera necesito un colchón
para descansar como hacen los vivos ―dormiré dentro
de un contenedor
y ahí lloraré sola
a mi amigo.
Mi amigo.
Él es hoy una semilla
en la tierra.
Ésta
sentirá el hambre de sus manos
cuando un campesino
siembre en ella
una patata germinada: y, entonces, cuando la mía apriete,
masticaré palabras limpias: honestas
como lo eran
las suyas.
Mi lugar en la mesa donde él me servía el vino
a la hora de la comida
y oía los desconciertos
está desolado; por eso te pido,
vacío a quien nunca he mentido, déjame albergarme
en tu nada ―habitar
dentro de ti.

1 comentário:

Eli disse...

Às vezes digo que tudo é uma treta! Será possível recear a poesia?