terça-feira, 2 de novembro de 2010

O meu tempo

Não existe hora certa, existe o meu relógio,
Lembrando sempre com seu tic-tac
Que há vida
Para ser vivida,
Que houve a vida
Que não se viveu.
Não importa que o rádio renitente ruja
São tal hora e tal minuto,
Hora oficial,
Afinal,
Que há de oficial em minha vida?

Somente,
Quebrando a paz exata deste espaço,
Levando a mim à frente, sem retorno,
A tiquetaquear meu ser-serei,
Existe o meu relógio, —
pulso falso,
Sensato solilóquio, lento, certo,

Que canta
O canto
Do tempo
Que é meu.

Ildásio Tavares (1940-2010)


Mi tiempo

No existe hora precisa, existe mi reloj,
Recordando siempre con su tic-tac
Que hay vida
Para ser vivida,
Que ha habido la vida
Que no se ha vivido.
No importa que la radio contumaz ruja
Es tal hora y tal minuto,
Hora oficial,
Al final,
¿Qué hay de oficial en mi vida?

Solamente,
Rompiendo la paz exacta de este espacio,
Llevándome a mí delante, sin retorno,
Tictaqueando mi ser-seré,
Existe mi reloj, ―
pulso falso,
Sensato soliloquio, lento, preciso,

Que canta
El canto
Del tiempo
Que es mío.

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