terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os deuses da pátria a cavalgar nos sonhos

Se eu tivesse segura a eternidade [como tenho as contas diárias
para pagar] renunciaria aos livros que ainda tenho para ler.
Nem poria os óculos que me tonteiam a realidade. Nem
ouviria o Peter Grimes que agora oiço -que me interessaria
o bramir da música contra os rochedos da poesia?
Se eu tivesse segura a eternidade [como a geada que esta manhã
me gelou os olhos] deixava-me dormir o dia inteiro
com os deuses da pátria a cavalgar nos sonhos. Talvez
inventasse um planalto qualquer, com uma pedra em forma
de destino e sentado esperasse os animais de Zaratustra
no seu aparecer alto e circular

Nuno Higino. O animal eólico do corpo


Los dioses de la patria cabalgando en los sueños

Si tuviera asegurada la eternidad [como tengo las cuentas diarias
que pagar] renunciaría a los libros que aún me quedan por leer.
No me pondría las gafas que me perturban la realidad. Ni
oiría al Peter Grimes que ahora oigo ―¿qué me iba a interesar
el bramar de la música contra los peñascos de la poesía?
Si tuviera asegurada la eternidad [como la helada que esta mañana
me ha helado los ojos] me quedaría durmiendo el día entero
con los dioses de la patria cabalgando en los sueños. Tal vez
inventase una altiplanicie cualquiera, con una roca en forma
de destino y sentado esperase a los animales de Zaratustra
en su aparecer alto y circular

3 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Retenho deste poema:
- o bramir da música contra os rochedos da poesia.
- a geada que esta manhã me gelou os olhos.
- com os deuses da pátria a cavalgar nos sonhos.
- inventasse um planalto qualquer, com uma pedra em forma
de destino.
- os animais de Zaratustra
no seu aparecer alto e circular.

Sun Iou Miou disse...

Gosto dos dois últimos livros do Nuno Higino, Alexandre, em especial do O animal eólico do corpo. Escolhi para traduzir este poema porque já o referira num texto do Isto non é un Cabaré, mas o NH tem outros lá que me dizem qualquer coisa além das palavras.

Alexandre de Castro disse...

E já os li, Sun Iou Miou. Gostei particularmente do poema "Talvez Deus se tivesse enganado".
Obrigado por nos revelar estes poetas e estes poemas.