quinta-feira, 14 de outubro de 2010

De que serviu...

De que serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu

recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para eu parar, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti

que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,

mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.

Maria do Rosário Pedreira. Nenhum nome depois (2004)


¿De qué ha servido...?

¿De qué ha servido ir a correr mundo,
arrastrar, de ciudad en ciudad, un amor
que pesaba más que mil maletas; mostrarles
a mil hombres tu nombre escrito en mil
alfabetos y una estampa de tu rostro
que me parecía feliz? ¿De qué me ha servido

rechazar a esos mil hombres, y a los otros mil
que hicieron de todo por que me parase, mil
veces peinándome los pliegues del vestido
cansado de viajes, o diciendo su nombre
tan bonito en mil lenguas que yo nunca
entendería? Porque sólo por ti

recorría yo el mundo, con tu voz
en mis oídos arrastraba el fardo
del amor de ciudad en ciudad, tu nombre
en mis labios de ciudad en ciudad, tu
rostro en mis ojos durante todo el viaje,

mas tú partías sempre la víspera de mi llegada.

1 comentário:

Alexandre de Castro disse...

Belíssimo poema de Maria do Rosário Pedreira. Julgo ter lido esta autora no abnoxio.
Foi uma escolha acertada. Um poema destes, com esta dimensão de escrutinar sentimentos e emoções, gerados pelo amor, só poderia ter sido escrito por quem os viveu intensamente.
Também serão todos aqueles que, nos mais diversos contextos, passaram por vivências semelhantes, os que melhor poderão senti-lo na epiderme dos sentidos.