quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um Fado: Palavras Minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.

Pedro Tamen, Tábua das Matérias

Un fado: palabras mías

Palabras que has dicho y ya no dices,
palabras como un sol que me quemaba,
ojos locos de un viento que soplaba
en ojos que eran míos, más felices.

Palabras que has dicho y que decían
secretos que eran lentas madrugadas,
promesas imperfectas, murmuradas
en tanto nuestros besos permitían.

Palabras que decías, sin sentido,
sin quererlas, nada más porque eran ellas
las que traían paz de las estrellas
a la noche que asomaba a mi oído...

Palabras que no dices, ni son tuyas,
que han muerto, que en ti ya no existen
—que son mías, sólo mías, pues persisten,
son recuerdo que arrastro por las calles.

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