segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Navegámos para Oriente...

Navegámos para Oriente ―
A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento

Um verde imóvel sob o nenhum vento
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes

Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças milagrosas

E extinguiram-se em nós memória e tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen. As Ilhas (1977)


Navegamos hacia Oriente...

Navegamos hacia Oriente ―
La larga costa
Era de un verde espeso y soñoliento

Un verde inmóvil bajo ningún viento
Hasta la blanca playa color de rosas
Tocada por las aguas transparentes

Ahí surgieron las islas luminosas
De un azul tan puro y tan violento
Que excedía el fulgor del firmamento
Navegado por garzas milagrosas

Y en nosotros se extinguió memoria y tiempo

1 comentário:

Alexandre de Castro disse...

Para celebrar Sophia, e, também, para saudar a escolha da María Alonso,junto este poema da "poeta" que constitui para mim uma permanente referência:

PORQUE

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919-2004)